quarta-feira, outubro 24, 2001

DECLARAÇÃO DE AMOR ÀS MULHERES- (Única espécime 99% perfeita e vejam
porque não é 100%)

(Texto de Sérgio Gonçalves -redator da Loducca, publicado no jornal da
agência)


Como não tenho religião, posso falar com tranqüilidade do mito de Adão e
Eva.
Reza a lenda que Eva foi criada a partir de uma costela de Adão. O que me
permite concluir que Adão foi um "rafe" de Eva. Ou um "proof" em baixa
resolução. Eva era a arte-final, o cromalin envernizado.

Se uma memória restou das festinhas e reuniões de familiares da minha
infância, foi a divisão sexual entre os convivas: mulheres de um lado,
homens do outro.
Não sei se hoje isso ainda ocorre. Sou anti-social ao ponto de não
freqüentar qualquer evento com mais de 4 pessoas, o que não me credencia a
emitir juízo. Mas era assim que a coisa rolava naqueles tempos.

Tive uma infância feliz: sempre fui considerado esquisito, estranho e
solitário, o que me permitia ficar quieto observando a paisagem.
Bom, rapidinho verifiquei que o apartheid sexual ia muito além das
diferenças anatômicas. A fronteira era determinada pelos pontos de vista,
atitude e prioridades.

Explico: no "corner" masculino imperava o embate das comparações e
disputas.
Meu carro é mais potente, minha TV é mais moderna, meu salário é maior, a
vista do meu apartamento é melhor, o meu time é mais forte, eu dou 3 por
noite e outras cascatas típicas da macheza latina.

Já no "corner" oposto, respirava-se outro ar. As opiniões eram quase
sempre ligadas ao sentir, a Falava-se de sentimentos, frustrações e
recalques com uma falta de cerimônia que me deliciava.
Os maridos preferiam classificar aquele ti-ti-ti como fofoca. Discordo.
Destas reminiscências infantis veio a minha total e irrestrita paixão
pelas mulheres.

Constatem, é fácil. Enquanto o homem vem ao mundo completamente cru,
freqüentando e levando bomba no bê-a-bá da vida, as mulheres já chegam na
metade do segundo grau.
Qualquer menina de 2 ou 3 anos já tem preocupações de ordem prática.
Ela brinca de casinha e aprende a dar um pouco de ordem nas coisas. Ela
pede uma bonequinha que chama de filha e da qual cuida, instintivamente,
como qualquer mãe veterana. Ela fala em namoro mesmo sem ter uma idéia
muito clara do que vem a ser isso. Em outras palavras, ela já chega
sabendo. E o que não sabe, intui.

Já com os homens a historia é outra. Você já viu um menino dessa idade
brincando de executivo? Já ouviu falar de algum moleque fingindo ir ao
banco pagar as contas? Já presenciou um bando de meninos fingindo estar
preocupados com a entrega da declaração do Imposto de Renda? Não nunca
viram e nem verão. Porque o homem nasce, vive e morre uma existência
juvenil. O que varia ao longo da vida é o preço dos brinquedos. E aí
reside a maior diferença: o que para as meninas é treino para a vida,
para os meninos é fantasia, é competição. É fuga.

Falo sem o menor pudor. Sou assim. Todo homem é assim. Em relação ao
relacionamento homem/mulher, sempre me considerei um privilegiado.
Sempre consegui enxergar a beleza física feminina mesmo onde, segundo os
critérios estéticos vigentes ela inexistia. Porque toda mulher é linda. Se
não no todo, pelo menos em algum detalhe.
É só saber olhar. Todas têm sua graça. E embora contaminado pela
irreversível herança genética que me faz idolatrar os ícones de
cafajestismo, sempre me apaixonei perdidamente por todas as incautas que
se aproximaram de mim.
Incautas não por serem ingênuas, mas por acreditarem. Porque toda mulher
acredita firmemente na possibilidade do homem ideal.
E esse é o seu único defeito.

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